TRÊS
CONSTRUÇÕES MÍTICAS
Instalações das
Artistas
CARMEN FUNCIA SIMÕES
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ANA MARIA ALMEIDA
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HELENA DONZELI
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Período: 13 a 28
de maio / 99
leia
matéria no jornal Correio Popular
INSTALAÇÕES: “Três
construções míticas”
ANA MARIA ALMEIDA - “Onde
reside o Rei”
CARMEN FUNCIA SIMÕES
- “O Círculo dos Cristais”
HELENA DONZELI - “O Ovo
da Serpente”
Como caracterizar estes
trabalhos que vieram de uma série de procedimentos anteriores, desde
a colagem talvez Surreal, até suas posteriores traduções
intersemióticas nas construções do texto à
pintura e posteriormente ao tridimensional? O que parece ficar claro que
estes procedimentos motivadores de um exercício artístico
propostos por Cecília Stelini, dera seus frutos, não como
uma fórmula para se produzir arte, mas como subterfúgios
para o afastamento com o real exigido por ela. Neste afastamento, estas
artistas foram conduzidas inicialmente por uma cena construída pela
técnica de colagem, que funcionou no trabalho como um espelho escondido
do público, nos quais inconscientemente, elas foram construindo
seus mitos interiores por espelhamentos e desdobramentos no campo simbólico
colhido. O espelho trazia à consciência, fragmentos da memória
sugeridos ou induzidos pelas imagens colhidas, remontadas e reorganizadas
por juízos e valores. Quando então o trabalho e seu campo
simbólico recorre novamente a conceituação escrita
e verbal dos elementos ou figuras, produzindo novos frutos. Deste automatismo
inicial, semelhante a alguns procedimentos. Dada que buscavam, juntar significados
mas, tinham como seu objetivo dissolvê-los. Estamos agora diante
do inverso na busca dos significados para ouvi-los, ou melhor ainda, de
representá-los. Neste sentido os procedimentos desenvolvidos por
estas artistas, encontram-se na direção pós-moderna,
pois retomam o caminho da arte como representação, um retorno
a factibilidade da pintura e consideram a linguagem como um instrumento
de transição de passagem de uma obra para a outra, de um
estilo para outro, conforme caracteriza Bonito Oliva o pós-modernismo
ao referir-se a Transvanguarda. Soma-se a isso o caráter figurativo
das obras apresentadas e a fatura manual empregada nos trabalhos. Quando
me refiro a representação do mito, nos três casos podemos
ver escolhidos, aqueles aspectos sempre presentes nas representações
míticas da humanidade, o altar, a verticalidade e as demarcações
de um local sagrado. As instalações conforme já afirmei
não estão relacionadas a tradição contemporânea,
nem tem compromisso com as vanguardas, recorrem a construções
espaciais míticas, como representações espaciais de
arquétipos humanos, também não é uma busca
do primitivo no sentido da arte Povera, retomando aos elementos: água,
terra, fogo e ar; como oposição a um secundário, ao
mundo do homem e da técnica. Apontam mais uma busca interna e o
retorno da arte a posições ocupadas por ela em culturas primitivas,
mescladas a ritos residuais, que também são arquétipos
das civilizações pré-colombianas e das influências
da civilização grega e de nossa cultura judaico-cristã.
MARCO DO VALLE
03 / MARÇO
/ 1998
Na instalação:
“ONDE RESIDE O REI”, Ana Maria Almeida, estabelece a noção
de altar, do caminho entre o que está no alto como valor que deve
ser seguido pelo que está em baixo.
Representa a noção
de passagem, a ascensão da alma, a condução no deserto,
que espelha-se no “Mito: Moisés”. Elementos do mito, como a água,
o rio como passagem entre dois mundos, a terra prometida, a lei e o alto
representado pelo Monte Sinai, os que ficaram pelo caminho na purificação
de seu povo voltando a terra, a noção de isolamento e infinito,
no encontro da vastidão do deserto e o azul do firmamento, o prateado
do metal reunindo simbolicamente dois elementos purificadores água
e fogo. Reuniu ainda no altar o ninho e o pássaro simbolizando o
destino e concluiu desta forma, a trajetória de Moisés ao
avistar do Monte Belo a terra prometida. Portanto o que está no
alto da representação é novamente a repetição
do que está em baixo, da germinação vegetal ao mundo
animal repetindo-se o cosmos e respondendo a um conjunto de metáforas
do mito.
MARCO DO VALLE
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Na instalação:
“O CÍRCULO DOS CRISTAIS”, Carmen Funcia Simões, realiza uma
representação do mito grego Perseu, herói da libertação,
síntese da audácia dos gregos que tinham nas expedições
marítimas suas principais fontes de riqueza. A Medusa é parte
do mito e personifica os perigos do mar. O mito de Perseu e a luta com
a Medusa simbolizam a guerra íntima travada na busca pelo conhecimento
de si, ideal supremo da moralidade grega. O círculo está
virtualmente apresentado nesta Instalação. Um ângulo
aberto de pigmentação e areia onde cristais-ninfas das águas
e cerâmicas-ninfas da terra com forma de dentes de tubarões,
parecem designar os perigos dos mares. A possibilidade da petrificação
ao olhar diretamente para a Medusa, e a solução de Perseu
ao confrontar-se com ela munido de seu escudo polido. Este escudo nada
mais era que o espelho da verdade. Focalizando seu alvo, o filho de Zeus
conseguiu matar seu inimigo. Neste trabalho podemos observar na pigmentação
aspectos da pintura desenvolvidos pelo processo anterior.
MARCO DO VALLE
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Na instalação:
“O OVO DA SERPENTE”, Helena Donzeli, trás os mitos da cultura do
milho das civilizações pré-colombianas dos Incas,
Astecas e Maias. A serpente aparece em diversas simbologias desde a serpente
princípio enigmática-secreta e que tem multiplicidade primordial
e que não cessa de desenroscar-se, desaparecer e renascer. A serpente
que é a divindade das nuvens e da chuva fertilizadora, o “Pássaro
Serpente” que está presente nas mais antigas religiões da
cultura do milho como a Serpente Emplumada Quetzalcol da civilização
Maia patrona da agricultura. Nesta instalação a noção
de verticalidade e local sagrado é resultante de uma representação
híbrida entre a reprodução ovípara do réptil
e a germinação da cultura do milho. As raízes profundas
para a terra, o local de germinação, sua superfície
de reprodução e a verticalidade do vegetal demarcam o local
do ninho da serpente, seus ovóides e sua reprodução
junta-se a estes um enigmático “barco” e logo acima do chão
pairam as divindades com suas fendas.
Três instalações
míticas que nos traz à memória o papel significativo
que nossos ancestrais artistas desempenhavam em suas culturas.
MARCO DO VALLE |
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Galeria
de Arte UNICAMP/IA
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