O CEPECIDOC – Centro de Pesquisas em Cinema Documentário da UNICAMP, é vinculado ao Departamento de Cinema (DECINE) e o PPGMM (Programa de Pós-Graduação em Multimeios) do Instituto de Artes, compondo o Diretório de Núcleos de Pesquisas do CNPQ. Congrega pesquisadores que trabalham em Cinema Documentário na diversidade de seus suportes e formatos, narrativos ou não narrativos. Seu objetivo é promover debates, seminários e projetos de pesquisa sobre Documentário Brasileiro e Mundial.

Sua fundação data de 2001. O termo ‘cinema documentário’ é pensado de modo amplo, estando aberto para formas narrativas diversas. Entendemos ser positiva a valoração da especificidade metodológica do documentário, enquanto forma estilística singular, distinta da tradição do cinema ficcional. O CEPECIDOC atua em quatro linhas de pesquisa, definidas adiante:

1)Cinema Documentário Autoral;

2) Cinema Documentário Brasileiro Contemporâneo;

3) Teoria do Cinema Documentário;

4) História do Cinema Documentário.

O CEPECIDOC foi responsável pela realização de diversos eventos na área de cinema documentário nos últimos anos. Em 2012 promoveu seminários internacionais através da vinda dos professores Michel Marie e Roger Odin, ambos professores eméritos da Universidade Paris III/Sorbonne Nouvelle. Foram promovidas palestras abertas a toda universidade (duas palestras para público amplo) e três reuniões fechadas com o grupo de pesquisa CEPECIDOC e alunos de pós-graduação. Iniciamos nossas atividades em 2001, promovendo o I Seminário Internacional de Cinema Documentário com 27 participantes, 5 mesas redondas e 8 professores convidados de outros países, com apoio CNPQ/FAPESP.

Em 2002 promovemos, no Itaú Cultural/SP, a Conferência Internacional ‘Tendências e Perspectivas do Documentário’, em conjunto com o Festival ‘É Tudo Verdade’ e apoio do Itaú Cultural. Em 2009, o CEPECIDOC, juntamente com a Universidade de Buenos Aires, com organização da professora Andrea Molfetta, realizou o evento latino-americano, ‘Seminário Internacional de Estudos Cinema Brasil e Argentina’, abordando a produção documentária no cone Sul. Reunimos 14 pesquisadores e professores de universidades brasileiras e argentinas. Para o segundo semestre de 2012 estaremos promovendo, através do Centro de Estudos Avançados (CEAv) da UNICAMP, a visita do Prof. Bill Nichols, da Universidade de São Francisco/Califórnia, à UNICAMP, para ministrar palestras e seminários na última semana de outubro.

O CEPECIDOC dedica-se a promoção de pesquisas e divulgação de acervo fílmico na área do cinema documentário, entendido de modo amplo, abrangendo o documentário poético e o filme ensaístico. Reune bimensalmente seus membros para debates variados, recebendo visitantes que pesquisam na área. Traz convidados, nacionais e internacionais, para exporem suas pesquisas. Quando convida professores de maior renome utiliza auditórios da UNICAMP para palestras. Possui experiência na realização de eventos com a organização, em sua área, nos últimos dez anos, de três encontros internacionais de maior porte. Em 2006 candidatou-se e foi aprovado no Edital Universal/CNPQ recebendo Apoio Financeiro a Pesquisa. Com os recursos recebidos mobiliou e equipou o espaço que ocupa atualmente, com duas salas no Instituto de Artes da UNICAMP.

O CEPECIDOC dispõe de acervo com 2809 títulos de documentários disponíveis para consulta ‘in loco’. Um dos objetivos do CEPECIDOC é constituir um amplo banco de dados e de imagens de Cinema Documentário, colocando-os à disposição dos usuários e pesquisadores.

A base das atividades que se desenvolvem no CEPECIDOC tem como objetivo articular pesquisas em torno de objeto de estudo denominado ‘Cinema Documentário’. O ponto de partida localiza-se na definição da narrativa documentária e na análise de produções cinematográficas e também televisivas. Com consciência da amplitude do campo, afirmamos a necessidade de uma abordagem horizontal, sobre a qual incidam recortes pontuais. Linhas de pesquisa envolvendo períodos, movimentos e autores da história do Cinema Documentário, compõem um recorte vertical que convive com uma proposta de exploração do documentário de modo interdisciplinar (particularmente com a Antropologia Visual e com as Ciências da Vida), incluindo o chamado documentário poético ou filme de ensaio.

Em sua amplitude, o campo do Documentário é recortado em três frentes: a) uma reflexão de cunho teórico, dando embasamento epistemológico a seu horizonte de pesquisa e à definição do campo do Documentário; b) pesquisas com recorte histórico, voltadas principalmente ao estudo do Cinema Documentário Brasileiro (Contemporâneo e Mudo); c) pesquisas situadas em um eixo multidisciplinar que irá articular a tradição do documentário, metodologicamente, com o campo antropológico, as ciências da vida e o meio ambiente. Sustentando essas três frentes, e coletando o material produzido, o CEPECIDOC estará realizando um de seus objetivos principais, a realização de um banco de dados centralizado que colocará à disposição do usuário informações de diferentes fontes sobre o Cinema Documentário nacional e internacional.

 

 

Eixo metodológico

Um trabalho de base, restringindo as amplitudes metodológicas da teoria que se debruça sobre o tema ‘documentário’, revela-se imprescindível para uma boa articulação do grupo de pesquisa. Nesse sentido, entendemos o campo do documentário a partir de um eixo múltiplo e com fronteiras permeáveis com quatro pontos cardeais: a) a ficção narrativa, na forma do docudrama; b) a propaganda na forma da publicidade; c) a arte de vanguarda na forma de performance; e d) o jornalismo na forma da reportagem. O trabalho de definição do documentário tem buscado pesquisar documentário nesses quatro pontos de fronteira, sem cair na armadilha, ou na tentação, de se estabelecer uma morfologia do gênero. Documentário e ficção não se diferenciam a partir do mesmo referencial epistemológico que se classificam categorias de animais, ou partículas da matéria, nas ciências naturais ou exatas.

Buscar as especificidades de diferentes regimes de representação não significa negar que fronteiras estabelecidas são tênues e as intenções se embaralham. Definições, no entanto, possuem a qualidade de impedir que hipóteses desenvolvidas a partir de um eixo teórico pré-estabelecido, impeçam um casamento mais dinâmico entre conceito e produção audiovisual concreta, conforme se apresenta na história do documentário e em sua contemporaneidade.

A definição do campo documentário, concretamente, se estabelece na oscilação da forma entre duas estruturas: a enunciação e a tomada. A “voz” do documentário é um feliz conceito criado pelo teórico Bill Nichols para se referir a camada enunciativa. Nichols analisa a “voz” do documentário, dentro de sua evolução histórica, para além da voz ‘over’ (fora-de-campo), que enuncia como ‘voz de Deus’, incluindo igualmente o enunciar dialógico (entrevistas, depoimentos, diálogos no modo dramático) e mesmo o que chama de voz “performática”, com ênfase maior na primeira pessoa e no discurso interior.

Para Nichols, a voz do documentário caracteriza-se por estabelecer argumentos sobre o mundo histórico. Noël Carroll define esta camada do ‘enunciar’ documentário a partir do conceito de “asserção”, herdado do pensamento analítico e da filosofia da linguagem. As asserções documentárias para Carroll pressupõem (o que não equivale a dizer que efetivamente concretizem) uma intenção de verdade por parte de seu autor. Dentro de uma abordagem que possui sua dívida com o estruturalismo linguístico, Roger Odin propõe parra tal o que chama de ‘semio-pragmática’, deslocando a ênfase da análise da enunciação para a construção da leitura no pólo espectatorial.

Define o documentário como processo operativo que constrói um modo de leitura, o modo ‘documentarizante’, estabelecendo uma diferenciação operacional entre a narrativa documentária que narra propriamente (A Tênue Linha da Morte, Errol Morris, 1988, por exemplo), a narrativa documentária que expõe (Les Statues Meurent Aussi, Alain Resnais, 1953; Hotel des Invalides, Georges Franju, 1952), aquela que mostra (Caixeiro-Viajante, Maysles, 1968;  Pour la Suite du Monde, Pierre Perrault, 1963); a narrativa que mostra de um modo mais participante (Os Mestres Loucos 1954/55; Eu, um negro 1957/58; ambos de Jean Rouch), a que mostra de um modo mais pessoal (toda a obra de Richard Leacock, por exemplo), ou ainda a narrativa documentária que possui estrutura poética (Berlim Sinfonia de uma Metrópole, Walter Ruttmann, 1927).

Nossa intenção é desenvolver a especificidade do campo documentário a partir do conceito de ‘encenação’, dentro de uma perspectiva histórica e autoral. As distinções importantes entre documentário e ficção são consideradas. O tema da ‘encenação’ é percorrido, seja no documentarismo clássico, seja no Cinema Direto/Verdade, seja nas novas narrativas em primeira pessoa ou no documentário chamado de poético ou performático.

Em um eixo de abordagem desenvolvemos análise com inspiração em metodologia de origem fenomenológica, colocando ênfase na relação entre o sujeito que sustenta a câmera na tomada e o mundo que a ele se oferece, abrindo-se pelo seu corpo (sujeito-da-câmera) ao espectador. Denominamos de encenação essa relação entre o mundo (com pessoas agindo e coisas) e o sujeito que encarna a máquina câmera. A mise-en-scène designa o modo pelo qual a encenação é disposta na tomada. Olhando para história do documentário podemos notar duas variantes estruturais na ação das pessoas para o sujeito que sustenta a câmera. Chamamos de encenação-construída, a ação ou expressão, preparada, de modo anterior, pelo sujeito-da-câmera. Chamamos de encenação-direta a ação para a câmera solta no mundo, ocorrendo sem uma flexibilização direta pelo sujeito-da-câmera.